quarta-feira, abril 05, 2006

Dar nas vistas


Nem sempre o dar nas vistas pode ser negativo, a provar isso a história que vos vou contar.Era manhã de Setembro, iniciávamos a nossa actividade das escolas de patinagem no recém concedido pavilhão Jacome Ratton. Era o período de captação de alunos e de adaptação ao novo espaço. Era o princípio do “futuro” para o clube e para os jovens atletas que vinham até nós respondendo à divulgação do jornal Cidade de Tomar. Havia patins para todos experimentarem, e entre trambolhões e sorrisos envergonhados, todos iam usufruindo da nova experiência.Chegou até nós um garoto franzino, envergonhado e com voz de medo pediu-nos um par de patins para experimentar. Estava fora dos parâmetros estabelecidos para a aprendizagem, já que só tínhamos previsto crianças até aos sete anos ou pouco mais e ele já tinha 11 anos. Mas, e porque nunca fechamos a porta a ninguém, lá lhe tentámos arranjar uns patins para um pé de um tamanho que não estava nas nossas previsões, a solução foram uns velhos patins-bota, já com muitos sofrimentos nas rodas e nas botas, que já começava a esboçar um “sorriso largo” numa das pontas. Mas como era para experimentar, quem dá o que tem…Ao longo de algumas semanas o João, assim se chama o rapaz da nossa história, lá foi treinando com os velhos patins. Era vê-lo aos sábados de manhã, meia hora antes do treino já estava à porta do pavilhão, aguardando a chegada de quem lhe permitisse a entrada para a zona de treino. Soube depois que o João morava no Alto do Piolhinho e que vinha a pé de casa com o saco do equipamento às costas. E era o primeiro a chegar!Mas um dia, o sorriso nas botas dos patins alargou-se, e de tal maneira que ficaram inutilizados para a prática da patinagem, a cara do João esboçou um sorriso amarelo e uma lágrima surgiu-lhe nos olhos. Via morrer os companheiros de muitas horas de alegria, os velhos patins. Já sem botas, conseguiram-se arranjar uns patins de iniciação com que treinou daí para a frente. O mais importante era que o João já se evidenciara pela sua aplicação nos treinos, mas especialmente pela sua assiduidade e capacidade de jogo. O João era já uma aposta ganha como jovem atleta emergido das escolas do clube. No Natal, o Pai Natal foi amigo e o João viu realizado o seu sonho, recebeu uns patins com bota novinhos em folha, lindos e com umas rodas verdes cor da esperança que lhe ia na alma. Foi bom ver o João a patinar com asas nos pés, o ringue parecia ser o “Mundo todo” do João. Se por mais não fosse só por isto já teria sido bom o trabalho de organizar as escolas de patinagem, mas felizmente muitos outros pequenos atletas são hoje uma realidade no S.C.T. graças à “fábrica do futuro” que são as escolas.Hoje o João continua a ir ao treino das escolas mas está já a treinar com os infantis A onde pela idade que tem pertence, provando assim que nunca é tarde para cumprir os sonhos. Parabéns João, és um exemplo para todos nós.João Mesquita

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RECORDAR É VIVER - OU DIVIDIR PARA REINAR ?